Osteoporose: a prevenção começa ontem

Maria Tereza Guerra, endocrinologista, CRM-PE 21.097

 

A Osteoporose é uma doença popularmente associada às faixas etárias mais avançadas, pois seus efeitos deletérios, como fraturas e perda de mobilidade, se apresentam durante a terceira idade. Entretanto, os fatores que influenciam a saúde óssea e determinam o risco de desenvolvimento desta afecção são determinados nas primeiras décadas de vida.

O pico de massa óssea é atingido entre 20 e 30 anos de idade, ou seja, nessa faixa etária os ossos chegam ao seu máximo de qualidade em termos de composição. A partir desse ponto, os ossos esponjosos ou trabeculares (como os da coluna vertebral) entram em processo de perda de massa óssea; os ossos longos ou corticais (como o fêmur) têm esse processo acelerado por volta dos 50 anos de idade, coincidindo com a menopausa no sexo feminino.

O título do artigo se justifica pelo atual entendimento de que o pico de massa óssea atingido na juventude é a principal variável determinante da saúde óssea nos estágios mais avançados da vida. Ou seja, criar uma boa “reserva óssea” é a melhor estratégia para diminuir os danos causados pelo inexorável processo de perda da qualidade óssea.

Alguns determinantes da saúde óssea são “não modificáveis” (genética, sexo e etnia): sabe-se que indivíduos do sexo masculino e de etnia negra tendem a atingir maiores picos de massa óssea comparados às mulheres, caucasianos, hispânicos e asiáticos; além disso, 60 a 80% da potencialidade óssea do indivíduo é determinada geneticamente.

Já os fatores modificáveis, relacionados ao estilo de vida, apesar de terem uma influência menor nessa equação, têm um peso suficiente para alterar o resultado final e determinar desfechos mais ou menos favoráveis. Dentre esses fatores, que podem ser utilizados a nosso favor, estão os fatores hormonais e ambientais.

A integridade do sistema hormonal é essencial na formação e na remodelação dos ossos, uma vez que vários hormônios têm papel determinante na fisiologia destes processos. Nisto reside a importância do reconhecimento precoce e do tratamento racional de quaisquer desbalanços hormonais que venham a prejudicar a saúde óssea.

Já os principais fatores ambientais modificáveis são a dieta e a atividade física. A dieta deve contemplar a ingestão adequada de cálcio e vitamina D, dentre outros nutrientes. A atividade física, por sua vez, é essencial, na medida em que as tensões mecânicas exercidas sobre o osso, seja pelo impacto ou seja pela contração muscular, são traduzidas em sinais bioquímicos que regulam favoravelmente o processo de remodelação óssea; para além do fato de que uma musculatura saudável confere mais estabilidade e equilíbrio, reduzindo o risco de quedas e fraturas.

Outros fatores relacionados ao estilo de vida que sabidamente aceleram o processo de perda óssea são: tabagismo, consumo alcoólico exagerado e o uso de glicocorticoides. Muitas vezes, o emprego de glicocorticoides é indispensável ao controle de determinadas doenças crônicas, mas o tabagismo e o etilismo devem ser abordados de maneira sistemática no intuito de auxiliar os pacientes que se sintam motivados a abandonar tais comportamentos.

A postura que devemos ter frente às doenças associadas à senilidade é traduzida na famosa frase do teólogo americano Reinhold Niebuhr (com alguns acréscimos feitos pela autora deste artigo):

Aceitar as coisas que não podemos modificar (a genética e a inexorabilidade do tempo), coragem para modificar aquelas que podemos (estilo de vida) e sabedoria para distinguirmos umas das outras (com informação de boa qualidade e orientação médica adequada)”.

Logo, nunca é cedo para se prevenir a Osteoporose e nunca é tarde para “correr atrás do osso perdido”. O tempo costuma retribuir com generosidade a quem age com disposição e faz escolhas acertadas.