Hipoparatireoidismo pós-cirúrgico: uma condição que deve ser lembrada

Arthur Inojosa

Médico endocrinologista – CRM CRM 25746  |  CRM 25746

Membro titular da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia

 

O hipoparatireoidismo é uma doença rara, com prevalência estimada de 0,25 casos a cada 1000 indivíduos. Porém, o hipoparatireoidismo pós-cirúrgico representa 75% das causas adquiridas e sempre deve ser lembrado em pacientes que realizam uma tireoidectomia total, tendo em vista que a hipocalcemia resultante, mesmo que transitória, pode ser grave e potencialmente fatal.

O hipoparatireoidismo pós-cirúrgico é definido como hipocalcemia (cálcio iônico ou cálcio corrigido pela albumina) na presença de níveis do PTH intacto indetectáveis, baixos ou inapropriadamente normais, após a realização de cirurgia.

O último guideline internacional de hipoparatireoidismo, publicado em 2022 pelo Journal of Bone and Mineral Research, sugere um novo conceito de hipoparatireoidismo permanente, passando a ser considerado quando a doença persiste > 12 meses após a cirurgia.

Além disso, o guideline recomenda a dosagem de PTH 12 a 24 horas após uma tireoidectomia total como forma de predizer quais pacientes não desenvolverão o hipoparatireoidismo permanente:

  • Se PTH > 10 pg/mL, o desenvolvimento da forma permanente é improvável;
  • Se PTH < 10 pg/mL, a possibilidade de desenvolver a forma permanente existe, mas mesmo assim ainda é baixa (<50%).

Na ausência de hipocalcemia, não existe recomendação para reposição de calcitriol ou carbonato/citrato de cálcio. A reposição de rotina, sem avaliação de sintomas, dos níveis de cálcio e PTH pode gerar hipercalcemia iatrogênica.

Em casos de hipocalcemia aguda grave e/ou sintomática, o paciente deve ser manejado em UTI com reposição oral de calcitriol e venosa de cálcio.

No seguimento ambulatorial, os autores do guideline sugerem monitorização sérica de cálcio, creatinina, fósforo e magnésio a cada 3 a 12 meses. As dosagens séricas de 25-hidroxivitamina D (25OHD) e de calciúria de 24h podem ser realizadas a cada 6-12 meses (a frequência depende dos sintomas e estabilidade do controle laboratorial).

Também de acordo com o guideline, as metas do tratamento são:

  • Níveis de cálcio sérico no limite inferior da normalidade. Se hipercalcemia presente, pode-se lançar mão do tiazídico, com monitorização de potássio, magnésio e sódio;
  • Evitar a hiperfosfatemia;
  • Evitar a hipercalciúria (em homens: < 300mg/24h e em mulheres: <250mg/24h)
  • 25OHD > 30ng/mL

O uso do PTH1-84 (não disponível no Brasil) ficaria reservado para os casos mais refratários, quando as metas do tratamento não conseguem ser atingidas mesmo com altas doses de cálcio (>2g/dia) ou calcitriol (>2mcg/dia).