Publicada no Diario de Pernambuco
06/10/2011
Brasília – Após nove meses de debate, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) chegou a uma conclusão sobre a venda de emagrecedores no país: em vez de proibir geral o comércio, optou por endurecer as restrições. Os remédios à base dos anfetamínicos mazindol, femproporex e anfepramona estão proibidos nos país. E o único medicamento que teve o registro mantido, a sibutramina, longe de ser consenso entre os diretores, será comercializado com uma série de imposições. O Conselho Federal de Medicina (CFM), entretanto, já avisou que a briga ainda não terminou: vai procurar a Justiça para manter a autonomia de decidir que tratamento será indicado a cada paciente.
A polêmica em torno da sibutramina deve-se a um estudo encomendado pela agência de regulação europeia para avaliar os efeitos da substância em pacientes com problemas cardíacos. Em 16% dos casos, houve aumento de doenças cardíacas. A dúvida é se o resultado poderia ser estendido a todos os obesos. Por lá, entendeu-se que sim, e a comercialização da substância foi suspensa. No Brasil, a Anvisa, em reunião aberta com a diretoria, decidiu monitorar o uso do produto por 12 meses e depois avaliá-lo novamente.
Quando o médico decidir prescrever o tratamento com sibutramina, ele deverá orientar o paciente sobre os riscos e ambos assinarão um termo de esclarecimento. Somente em posse desse termo, o paciente poderá comprar o remédio. O médico também será obrigado a informar à agência reguladora qualquer reação adversa e os laboratórios fabricantes terão até 60 dias para apresentar um plano de minimização de riscos. Quem não apresentá-lo terá o registro suspenso.
Por meio de nota, o CFM informou que, durante esta semana, estudará quais medidas judiciais adotará contra a decisão da Anvisa. O promotor do Ministério Público do DF Diaulas Ribeiro tende a continuar apoiando o conselho. “Se os médicos chegarem à conclusão que, de fato, não restou alternativa para os pacientes, mantenho minha posição de partir para a guerra na Justiça”, avalia.
Para os profissionais de saúde as medidas de controle são redundantes. “Devo comemorar que a Anvisa esteja fazendo o papel dela de regular – e com personalidade, sem seguir a agência europeia. Mas lamento que tenha gasto tanto dinheiro e tempo para chegar a uma conclusão já definida pelos médicos”, critica o representante da Associação Médica Brasileira, Wanderley Marques Bernardo. (Juliana Braga)
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Efeitos Diversos
Os emagrecedores analisados pela Anvisa atuam no hipotálamo, região do cérebro que controla as sensações de fome e de saciedade. Veja a diferença entre eles.
Os anfetamínicos mazindol, anfepramona e femproporex, proibidos ontem pela agência, atuam nos neurônios, bloqueando a recepção de duas substâncias que causam a sensação de fome: a dopamina e a noradrenalina. Quanto maior a quantidade dessas substâncias na região entre os neurônios, chamada de sinapse, menor a sensação de fome.
A sibutramina, além de diminuir o apetite, aumenta a sensação de saciedade. Assim como os anfetamínicos, ela bloqueia a absorção da noradrenalina, mas age também na serotonina, que faz com que a sensação de saciedade chegue mais rápido quando uma refeição é iniciada. A Anvisa manteve a comercialização da substância.