Diabetes, novos tratamentos e tecnologias

Paula Aragão Prazeres de Oliveira, endocrinologista, CRM-PE 16737

 

A descoberta da insulina em 1921 pelos cientistas canadenses Banting e Best tornou o Diabetes Mellitus, doença até então com 100% de mortalidade, passível de tratamento. Os estudos na área da Diabetologia avançaram exponencialmente nas últimas décadas resultando em uma maior praticidade de seu manuseio, diagnóstico mais precoce e tratamento mais efetivo. O tratamento do Diabetes tem como prioridades. além do melhor controle glicêmico possível individualmente, redução das complicações micro e macro vasculares e manutenção da menor variabilidade glicêmica nas 24 horas com um menor risco de eventos hipoglicêmicos.

Em termos de inovações tecnológicas, o auto monitoramento glicêmico através de dispositivos wearables está sendo bastante estudado. Lançado no Brasil em 2017 o dispositivo tem um sensor aplicado na pele, na parte posterior superior do braço, que mede de forma contínua as leituras glicêmicas e armazena os dados continuamente (24 horas) durante até 14 dias, além de não ter o inconveniente das medidas de ponta de dedo. Outro dispositivo recentemente aprovado pela FDA, o Eversense CGM consiste num pequeno sensor com duração de 90 dias, que pode ser inserido na pele em ambiente ambulatorial e as glicemias são lidas por um transmissor externo, proporcionando maior flexibilidade e conveniência ao usuário.

Insulinas novas e inteligentes estão sendo testadas. O desenvolvimento da “insulina inteligente” baseia-se no conceito da resposta e liberação de insulina apenas quando necessário em resposta aos níveis glicêmicos. As insulinas inaladas para controle das glicemias prandiais tem o atraente potencial de eliminar as injeções indesejadas. A insulina inalada foi aprovada pela FDA em 2014, porém apesar de sua promessa conceitual, os esforços para realizar o seu uso ainda não foram bem sucedidos, pois o desenvolvimento de moléculas que possam ser adequadamente distribuídas e absorvidas pelos alvéolos têm sido um desafio. Recebeu aprovação da FDA em 2017 uma formulação de insulina ultra-rápida desenvolvida para prevenir e reduzir as glicemias pós-prandiais com correções mais rápidas da hiperglicemia em relação às insulinas já existentes no mercado.

Já disponíveis no mercado brasileiro desde 2018, novos compostos associam uma insulina de longa ação (degludeca ou glargina) a um análogo de GLP-1 (liraglutida ou lixisenatide).  Essa novas formulações de drogas associam em uma mesma caneta e aplicação as duas medicações, estabelecendo benefícios de melhor controle glicêmicos com doses menores de insulina como também benefícios metabólicos e de perda de peso proporcionados pelos análogos de GLP-1.

Tecnologias mais modernas paras as canetas de insulina têm sido testadas, como as canetas Bluetooth (IPEN), aprovada em 2016 e traz benefícios de cálculos das doses de bolus e rastreamento de dados, como também recebe dados dos sensores de auto monitoramento glicêmico, fornecendo médias de glicose e linhas de tendência glicêmicas. Em relação aos desafios para o desenvolvimento de insulina por via oral, os estudos baseiam-se na capacidade da molécula sobreviver ao ambiente ácido gastrointestinal e sua degradação bioquímica, porém essas terapias ainda não progrediram, diferentemente de agonista de GLP-1 de uso oral que já está em estudo de fase III.

Novas Terapias, monitoramento e tecnologias revolucionárias na condução do Diabetes representam uma oportunidade histórica para melhorar a qualidade de vida dos diabéticos. O controle mais significativo dos valores séricos de glicemia com a utilização dos novos dispositivos de auto monitoramento como também as terapias mais “inteligentes”, seguras e eficazes fornecem dados mais confiáveis e precisos das glicemias como também um controle glicêmico a curto e longo prazo mais efetivo e a prevenção das complicações micro e macro vasculares do Diabetes. Essas inovações precisam ser compartilhadas entre médicos e oferecidas aos pacientes para se obter um tratamento cada vez mais otimizado.

Dra. Paula Aragão durante o recente congresso europeu de Diabetes (EASD), realizado em Berlim, Alemanha