Aline Alves Lopes, CRM PE 23.137
Em dezembro de 2019, o mundo viu-se diante de um inimigo microscópico: o coronavírus (SARS-CoV-2), recém descoberto na China, causador de síndrome gripal com potencial evolução para pneumonia e síndrome respiratória aguda grave. Pelo seu impacto global, em março de 2020, a Organização Mundial de Saúde decretou a situação como pandemia, denominada COVID-19 (do inglês, COronaVIrus Disease 2019). No decorrer dos meses, foi observado que alguns grupos de pacientes poderiam desenvolver formas graves. Nesse grupo, estavam incluídos: idosos, hipertensos, diabéticos, obesos, portadores de imunossupressão, dentre outros.
Na endocrinologia não foi diferente. Pacientes diabéticos apresentam maior risco de gravidade devido à inflamação sistêmica crônica e maior risco de doença cardiovascular, particularmente quando há associação com dislipidemia, hipertensão e tabagismo. Piora da resistência insulínica e maior descompensação glicêmica podem ser consequências da infecção.
No tocante à obesidade, além da inflamação sistêmica, existe uma dificuldade na dinâmica da troca gasosa no pulmão e maior prevalência de síndromes de hipoventilação pulmonar (apneia e hipopneia do sono); tornando o distúrbio ventilatório potencialmente mais grave no obeso.
Até o final de junho, no mundo foram confirmados 9.871.711 casos. No Brasil, são 1.274.974 casos, com 55.961 vítimas do COVID-19. Recentemente foram divulgados dados preliminares do estudo Recovery, estudo randomizado e controlado, que utilizou o glicocorticoide dexametasona na dose de 6mg/dia por 10 dias (por via oral ou venosa), em portadores de COVID-19. Ao final de 28 dias, no grupo que utilizou a dexametasona, houve redução da mortalidade em 20% nos pacientes usuários de oxigênio de forma não invasiva e de 33,3% para os pacientes em uso de ventilação mecânica.
Esses dados nos dão esperança de um potencial tratamento, mas pontos importantes devem ser lembrados: o benefício foi restrito aos pacientes que precisaram de oxigênio suplementar e a dexametasona não é isenta de efeitos adversos. Dentre eles, destacam-se: aumento da pressão arterial e da glicemia, ganho de peso, osteoporose e glaucoma. Apesar da expectativa de todos pela medicação que reduza a mortalidade por COVID-19, este tratamento deve ser prescrito apenas pelo médico, com devidas orientações e precauções, sempre combatendo a automedicação e o uso indiscriminado de corticoides, bem como buscando o controle otimizado do diabetes e da obesidade. Na dúvida, procure seu endocrinologista e faça seu tratamento sempre com orientação médica.
Referências:
- Dietz W, Santos‐Burgoa C. Obesity and its Implications for COVID‐19 Mortality. Obesity. 2020 Jun;28(6):1005-.
- Drucker DJ. Coronavirus Infections and Type 2 Diabetes-Shared Pathways with Therapeutic Implications. Endocr Rev. 2020;41(3):bnaa011. doi:10.1210/endrev/bnaa011
- https://coronavirus.jhu.edu/map.html
- https://www.recoverytrial.net/