Há espaço para Suplementos na prática clínica?

Jussana Arruda

Médica Endocrinologista – CRM –PE 22523/ RQE 10856

Membro Titular da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia

 

De início, vamos deixar claro algo importante: uma alimentação equilibrada deve sempre ser o foco de qualquer pessoa que deseja uma vida mais saudável. Dada esta premissa, os suplementos seriam os compostos que iriam complementar ou otimizar algo que essa alimentação não conseguiria fornecer isoladamente.

Existe uma variedade de suplementos disponíveis comercialmente com propósitos diversos, desde auxílio ao emagrecimento, ganho de massa muscular, redução de fadiga e melhora do rendimento esportivo. No entanto, a grande realidade é que uma minoria apresenta, de fato, evidências científicas de sua eficácia. Entre estes suplementos, temos os hipercalóricos e os carboidratos, os quais funcionam como substrato energético, que agiriam no desempenho físico e / ou para aumentar o aporte de calorias durante o dia para o ganho de peso em geral. O seu uso dependeria do tipo e da intensidade do exercício praticado. Os suplementos mais comuns nesse sentido são as massas hipercalóricas, as bebidas e os géis para desportistas, maltodextrina, dextrose, waxy maize, palatinose. A diferença entre eles consiste na forma de apresentação, na velocidade de absorção, índice glicêmico e nos componentes associados aos produtos.

Há os suplementos hiperproteicos, que se destinam a fornecer aminoácidos, polipeptídios e proteínas para suplementar a demanda diária e assim otimizar o ganho muscular ou reduzir o catabolismo muscular, o que resultaria em um recondicionamento muscular mais eficiente. Esses suplementos proteicos podem vir isolados, hidrolisados ou associados a carboidratos; entre os principais tipos temos o whey protein, caseína, proteína de soja, albumina e aminoácidos.

Em relação ao “famoso” whey protein consiste em um suplemento de elevado valor nutricional, originário do leite de vaca, que além de proteínas contém aminoácidos essenciais. Seu uso principalmente no período pós treino imediato é eficaz em promover hipertrofia muscular, além de possibilitar maior redução da gordura corporal. Um dos fatores importantes para a sua ação em otimizar a síntese proteica é a quantidade mais elevada de leucina, comparado a outras fontes de proteínas, sendo considerado mais eficaz em ganho muscular devido à sua rápida digestão, absorção e sua composição específica de aminoácidos. Foram propostas outras ações do whey protein além da manutenção da massa muscular, como ação antioxidante, regulação do metabolismo lipídico, estímulo de outros hormônios anorexígenos, como colecistoquinina e leptina, diminuição da secreção da grelina e propriedades antidiabéticas com estímulo a secreção de incretinas. Na prática clínica pode também ser recomendado para pacientes que se submeteram a cirurgia bariátrica, para os idosos, assim como no tratamento da sarcopenia.

Em relação a suplementos específicos para melhora de desempenho físico, a creatina tem a proposta de aumentar a potência e o rendimento em atividades de explosão, aumentando o desempenho do indivíduo em realizar treinos mais intensos. Também foi demonstrado aumento de massa muscular após 4 a 12 semanas de uso. Considerando o impacto da creatina na quantidade e qualidade muscular, a sua utilização clínica também tem sido preconizada em condições que apresentem comprometimento muscular, como envelhecimento e sarcopenia. De certa forma, tem-se mostrado seguro, inclusive com trabalhos de 5 anos de duração evidenciando sua segurança nos efeitos renais. De inconvenientes, apresenta retenção hídrica e sintomas gastrointestinais.

O uso de bicarbonato de sódio como suplemento esportivo se baseia na sua suposta capacidade em neutralizar o excesso de ácido láctico (produzido pela glicólise anaeróbica) durante treinos mais prolongados, reduzindo a sensação de fadiga. Vale destacar que o bicarbonato é o principal tampão extracelular existente e sua utilização como agente de melhora do desempenho tem se mostrado seguro em competições de alta intensidade (duração de 1 -7 minutos), esportes com maior duração com necessidade de vários sprints ao longo do treino e em esportes de combate.

As substâncias consideradas termogênicas são aquelas com capacidade de aumentar o metabolismo basal, independente da realização de atividade física. A cafeína é um dos principais representantes desse grupo. Vários estudos mostraram o aumento do gasto energético com o seu uso, porém a relevância clínica (impacto sobre a perda de peso) desse efeito não está bem clara. Devido ao seu efeito ergogênico de reduzir a fadiga, seu uso pode ser recomendado antes das atividades físicas a fim de ajudar a minimizar o cansaço e a indisposição para o treino. Em doses adequadas, tem-se mostrado seguro, porém o surgimento de efeitos adversos é variável entre os indivíduos, necessitando individualizar sua recomendação e acompanhamento durante o seu uso.

Nos últimos anos houve um aumento no consumo dos suplementos alimentares, seja por motivações estéticas ou a procura de melhor rendimento esportivo. Mas, antes de recomendar ou consumir os mesmos, há a necessidade de discernir quais situações, objetivos e custo/benefício de determinada suplementação. De forma geral, os suplementos podem ser utilizados na tentativa de aprimorar o rendimento esportivo, mas a grande parcela dos praticantes de atividades físicas não necessita desse recurso. Para atletas iniciantes ou amadores que realizam atividades com pouca intensidade e frequência, é pouco provável que o suplemento alimentar seja útil a ponto da recomendação de seu uso não ser custo-efetiva. No entanto, à medida que o atleta evolui no esporte com treinos de maior duração e intensidade, pode haver a necessidade de uma suplementação para suprir as demandas impostas pela atividade física.

 

Referências

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