Tratamento medicamentoso da obesidade

Raíssa Lyra, endocrinologista, CRM PE 22751

A obesidade é uma doença crônica, definida como índice de massa corpórea (IMC) maior ou igual a 30Kg/m2. Está associada na maioria das vezes a outras doenças crônicas, como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Sua prevalência vem aumentando nas últimas décadas e é um grave problema de saúde mundial. Esse aumento é secundário a uma complexa interação entre predisposição genética, comportamento humano e ambiente. Estudo recente destacou a inércia terapêutica como mais um fator envolvido no aumento do número de obesos. Diante desses dados alarmantes, têm-se preconizado o início cada vez mais precoce do tratamento medicamentoso da obesidade, em associação ao tratamento não medicamentoso. No Brasil, dispomos de quatro drogas aprovadas para essa finalidade: liraglutida, sibutramina, orlistate e lorcaserina.

Liraglutida 3.0mg

A liraglutida é um análogo do GLP-1 de aplicação subcutânea diária, aprovada para o tratamento da obesidade na dose de 3,0 mg/dia. Sua ação leva à diminuição da fome, aumento da saciedade e plenitude gástrica, com consequente diminuição da ingesta calórica. Dentre as quatro medicações aprovadas no Brasil, a liraglutida é a que leva à maior perda de peso nos estudos, onde 15% dos pacientes atingem a perda de 15% do peso corporal. É uma medicação segura para uso a curto e longo prazo e possui perfil cardiovascular seguro.  Os efeitos colaterais mais comuns são náuseas, principalmente no início do tratamento. É contra-indicado diante de história pessoal ou familiar de carcinoma medular de tireóide, em pacientes com neoplasia endócrina múltipla tipo 2 e em gestantes.

Sibutramina

A sibutramina é um inibidor da recaptação de serotonina e norepinefrina de uso oral diário nas doses de 10mg/dia ou 15mg/dia. Sua ação principal é no aumento da saciedade e prolongamento do tempo de saciedade. Nos estudos, 28% dos pacientes perdem mais que 10% do peso corporal. É uma medicação segura para os pacientes com baixo risco cardiovascular, porém,  diante do efeito adrenérgico com possível aumento da frequência cardíaca e pressão arterial, deve ser evitada em pacientes com hipertensão arterial sem controle adequado, histórico de doença cardiovascular ou cerebrovascular e em diabéticos com pelo menos um fator de risco adicional, além de idosos, crianças e gestantes. Os efeitos colaterais mais comuns da medicação são cefaléia, secura de boca, constipação intestinal e insônia. O prazo máximo de tratamento recomendado com esta droga é de dois anos.

Orlistate

O orlistate é um inibidor de lipases do trato gastrointestinal, que bloqueia a absorção de triglicérides em torno de 30%, com consequente eliminação dessa gordura não ingerida pelas fezes. Medicação de uso oral na dose de 120mg antes das principais refeições do dia. Nos estudos, há uma perda de peso menos importante que as demais medicações citadas anteriormente, sendo em torno de 4% do peso corporal. É uma medicação segura e que pode ser usada a longo prazo. Os efeitos colaterais mais comuns são dor abdominal, fezes oleosas e incontinência fecal, efeitos esses que irão depender da quantidade de gordura ingerida. É contra-indicada em gestantes, durante a amamentação, em pacientes com colestase ou síndrome de má absorção crônica.

Lorcaserina

A lorcaserina é um agonista seletivo do receptor serotoninérgico 5-HT2c de uso via oral em duas tomadas diárias na dose de 10mg. Sua ação é na diminuição do apetite. Os estudos mostram quase metade dos pacientes perdendo mais de que 5% do peso corporal. É uma medicação bem tolerada e segura do ponto de vista cardiovascular. A contra-indicação é para grávidas, crianças e adolescentes.

Outras opções de medicações e associações, como fentermina com topiramato e naltrexona com bupropiona já estão aprovadas e disponíveis nos EUA, porém, ainda não são liberadas no Brasil.